sexta-feira, 8 de julho de 2011

A Lua, o sagrado e a fertilidade da mulher (ciclo menstrual).


"Animal misterioso associado aos poderes da lua, ao mundo da magia e às bruxas, os machos pretos eram a personificação do diabo."

Nesse breve texto, falaremos um pouco sobre algumas simbologias e mitos relacionados à Lua,  suas “afinidades” com o feminino, em particular, com o seu ciclo menstrual.

Pois bem. A “Lua”, desde longas datas, vem exercendo um incrível fascínio na humanidade (o que não é novidade!). Mas poderíamos perguntar: de onde viria todo esse deslumbre? Esse encantamento para com esse romântico astro?

Uma das boas explicações, assim nos parece, leva-nos a pensar a Lua como uma representação do sagrado. E, como tal, “adorada” por sua grande concentração de força e uma fonte inesgotável de vida.

É nesse sentido a percepção de muitas religiões e mitologias.

Os Gregos e os Celtas, por exemplo, valorizavam e se dedicavam a observar a relação entre a Lua e as Marés.

O mesmo faziam os Maori da Nova Zelândia. Por seu lado, os esquimós acreditavam que as divindades lunares comandavam as marés.

Deusas importantes foram personificadas (representadas) pela Lua: Selene, Ártemis e Hécate. A trindade grega a qual representava a Lua em suas fases, bem como sua "capacidade de distribuir o bem, ou referendar sortilégios e encantamentos".

Falamos em divindades lunares e não em “deusas-lua”.

Expliquemos melhor: a “adoração de um objeto cósmico ou telúrico por ele mesmo não existe na história das religiões”, melhor dizendo,  não era a Lua considerada uma deusa ou um deus, “ela serviria como espécie de reflexo do sagrado (Eliade).

Nesse sentido, um objeto sagrado, “quaisquer que sejam sua forma e a sua substância, é sagrado porque revela a realidade última ou porque participa dela” (Eliade), ou seja, ele por si só não seria sagrado.

Outra questão interessante é o ser humano se reconhecer na “vida” da Lua. Vejamos: tal como a lua (metaforicamente falando) a nossa vida tem um fim, no entanto, em função da “lua nova”, há uma perspectiva de regeneração, uma esperança de “renascimento” (a conhecida sede de eternidade ou de evolução espiritual).

A Lua é “um astro que cresce, decresce e desaparece, um astro cuja vida está submetida à lei universal do devir, do nascimento e da morte. Diferente do Sol, o qual permanece sempre igual, sem qualquer espécie de devir.

Ora, durante três noites o céu estrelado fica sem lua. Mas esta “morte” é seguida de um renascimento: a “lua nova”, ou seja, o seu desaparecimento na obscuridade nunca é definitivo.


 Segundo um hino babilônico dirigido a Sin, a lua é “um fruto que cresce por si mesmo”. “Ela renasce da sua própria substância, em virtude de seu próprio destino”.  Estabelecem-se ciclos, de vida e de morte, e isso é bem visível nos mais diversos mitos.

Mas também podemos percebê-lo em outros ciclos da vida, falamos por ora especificamente da relação Lua/ciclo menstrual.


Pois bem, desde a época neolítica, ao lado da descoberta da agricultura, estabeleceu-se uma relação simbólica entre a Lua, as águas e a fecundidade das mulheres (e ao seu ciclo menstrual).

A espiral, por exemplo, cujo “simbolismo lunar já era conhecido na época glaciária, refere-se às fases da Lua, mas compreende igualmente os prestígios eróticos derivados da analogia vulva-concha”.


Por isso, uma pérola usada por uma mulher não deixa de expressar um simbolismo de fertilidade.



Muitos artistas, por exemplo, ao longo dos tempos, têm representado o nascimento da Vênus (deusa da fertilidade e do amor), numa concha. É o caso clássico da "Vênus de Botticelli".


A própria palavra “menstruação” deriva do latim mens e significa “lua” e “mês”. Segundo Priscila Di Cianni, a “primeira forma de medir o tempo foi pelo ciclo menstrual das mulheres. A sincronia entre o ciclo lunar e o menstrual refletia o vínculo entre as mulheres, a Lua e as deusas da fertilidade”.

Muitos estudiosos do assunto afirmam que no passado acreditava-se que “o poder da mulher viria de seu sangue, e por isso ela não deve desprezá-lo, mas considerá-lo sagrado. Era como se o sangue menstrual ligasse a mulher ao poder da Criação”.

As religiões e as mitologias dão uma boa indicação disso, senão vejamos:

“O deus Nórdico Thor alcançou a terra mágica de encantamento e vida eterna por banhar-se em um rio cheio com o sangue menstrual das  “mulheres gigantes”. As Primeiras Poderosas” que governavam os deuses mais antigos antes que Odin trouxesse seus “Asiáticos” do leste”.




Os índios da América do Sul dizem que toda a humanidade foi feita de "sangue menstrual. Uma concepção presente também na Mesopotâmia, na qual a Deusa Ninhursag (Grande Mãe) fez a raça humana com barro e com o "sangue da vida".

Para os taoístas, um homem que anseia à imortalidade ( ou ter uma vida longa), precisaria do sangue menstrual, do suco vermelho yin, oriundo do "Portão Misterioso da mulher".

No entanto, com o surgimento das sociedades patriarcais, o sangue menstrual passou a ser visto como sujo e maligno, "o que não deixa de ser irônico, visto que o sangue menstrual é o maior indicativo da fertilidade de uma mulher".

Notemos que são muitos poucos, hoje, inclusive entre as mulheres, que valorizem a menstruação da mulher, ao contrário, é um discurso comum as lamentações em torno da fase de menstruação.


No próprio texto bíblico, as mulheres menstruadas passaram a ser “consideradas impuras e sujas e deviam ser mantidas longe da restante família, dos lugares santificados e de todas as coisas santas durante a duração do seu período”.

Por isso, para a escritora Mirella Faür diz: “Enquanto que nas sociedades matrifocais as sacerdotisas ofereciam seu sangue menstrual à Deusa e faziam suas profecias durante os estados de extrema sensibilidade psíquica da fase menstrual, a Inquisição atribuía a esse poder oracular a prova da ligação da mulher com o Diabo, punindo e perseguindo as mulheres ‘videntes’.

Originaram-se daí a imensidão de tabus, de proibições e de superstições relacionadas ao sangue menstrual, o vermelho feminino incorpora, então, aspectos obscuros e depreciativos.

Para a autora "milênios de supremacia e domínio patriarcal despojaram as mulheres de seu poder inato e negaram-lhe até mesmo seu valor como criadoras e nutridoras da própria vida ”.

Mirella chega a afirmar que o resultado de tudo isso “é a tensão pré-menstrual, as cólicas, o ciclo desordenado, o desconhecimento dos ritos de passagem e dos mistérios da mulher”.

Essa é um polêmica interessante e instigadora e nos dedicaremos a ela em texto futuro!

(continua ....)




Fontes:


(Adotamos como texto básico sobre a simbologia da Lua, a obra clássica em Ciências das Religiões, de Mircea Eliade: “Tratado da História das Religiões”.)


Outras fontes:


http://www.girafamania.com.br/africano/materia_egitomitologia.html
http://www.uranometrianova.pro.br/historia/Mitos/lua/mitoslunares.htm
http://portalesdoceu.blogspot.com/2011/05/o-feminino-menstruacao-e-o-sagrado.html

4 comentários:

  1. Muito boa a referência à Eliade. E o contra-ponto aos sisntomas pré-menstruais.Ficou agradável de leitura e interessante pra aprofundamento científico. Parabéns! Prof Ana Paula - UFPB

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  2. Nobre,
    Estão ótimos os novos textos e imagens.
    Everaldo.

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  3. Boa Andre, uma viagem e experiencia dessa so faz crescer o verdadeiro sentindo das nossas vidas, o descobrior, o aprender e repassar os ensinamentos aos proximos...

    Vejo vc e sua esposa como exemplo de casal unido, curtiem suas obrigacoes, responsabilidades, mas nao deixa esquecer uma das fontes principais da vida - nossa familia, vc paizao e Kiara um bela mae.

    Vcs, curtem as mesmas coisas e se divertem com tantas aventuras, parabens e abraco ao parceiro. Continuem e ate a proxima.

    No seu esporte - "Bons ventos."
    No meu esporte - Osss!!!


    Cristiano Mendes.

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  4. Olá. Nossa sou facinada pelos assuntos que diz respeito a mulher, principalmente os mais intimus. Busco a cada dia conhecer mais sobre o grande universo femenino, para me descobrir e saber quem sou. Adorei seu texto muito bomm. adore esse blog
    Grande abraço

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