Discutiremos nesse texto a perspectiva de crescimento do mito mariano dentro do processo de feminização do ocidente e sob o ponto de vista da crise moral pela qual passa a Igreja Católica.
Percebam o termo “mito” no sentido de narrativas sobre personagens e acontecimentos que apesar de serem, muitas vezes, revestidos com poesias, cores e paixão, não deixam de trazer à tona verdades profundas da humanidade e de suas culturas. Jamais no sentido de inverdade, como queria a modernidade e os "racionais".
Judith
Por isso, toda sua capacidade de nos envolver, de refletir imagens primordiais, como se o nosso inconsciente (coletivo e individual) sentisse ali um lugar seguro e acolhedor, transmitindo-nos energia psíquica e biológica, ou seja, nos enchendo de emotividade.
No caso da Virgem Maria, especialmente, isso nos parece evidente. Sua imagem de proteção, de mãe, de cuidado, de intercessão (pois é isso que pedimos sempre as mães) inunda nosso pensamento, atingindo nossos sentimentos mais profundos.
A Caixa de Pandora
No caso da Virgem Maria, especialmente, isso nos parece evidente. Sua imagem de proteção, de mãe, de cuidado, de intercessão (pois é isso que pedimos sempre as mães) inunda nosso pensamento, atingindo nossos sentimentos mais profundos.
Essa nos parece ser uma das boas razões para o culto milenar à Virgem Maria se tornar uma poderosa expressão do imaginário coletivo (e não só dos católicos).
Nesse ponto, é bom desde já enfatizarmos que tanto Lutero como Calvino (fundadores do protestantismo) reafirmaram e exaltaram a figura de Maria).
"Peçamos a Deus que nos faça compreender bem as palavras do Magnificat… Oxalá Cristo nos conceda esta graça por intercessão de sua Santa Mãe! Amém."
E falamos o termo divinizado pois é assim que suas representações e crenças parecem sugerir.
Tudo isso, a despeito de buscarmos constatações históricas de sua existência e de seus atributos. Até porque a racionalidade pura e a historiografia mais conservadora não conseguiriam por si só alcançar a plenitude do fenômeno da Virgem Maria.
No fundo, estamos tentando falar, na realidade, de uma espécie de predisposição nata (estrutural) para recepcionar os sinais de Maria, como Arquétipo da Mãe.
Saturam-se os “tempos modernos”, e também sua bandeira de endeusamento da razão. Na pós-modernidade, diferentemente, há uma evidente valorização da emoção, do feminino.Nesse sentido, figuras como as de Maria tenderiam a adquirir força e capacidade de expansão. Percebam que não se trata de uma questão tão somente de religião.
Nesse sentido, a “imagética mariana” expressa também a capacidade de resistência da mulher ante as mazelas da vida (vejam a vida das mulheres nordestinas: mãe, educadora, trabalhadora). A mãe que se doa inteira e traz consigo a essência da paz de espírito, sem contudo, negar-se a enfrentar a vida.
Por outro lado, sabemos, obviamente, que há um renovado culto a Maria, patrocinado por alguns movimentos católicos, com ênfase nos valores familiares e morais ortodoxos, com rejeição do homossexualismo e do sexo antes do casamento, e nos deveres de assistência caritativa. (Alves, 2002). Mas esse não é o foco de nossa discussão.
Apesar de o entendermos como uma espécie de rememoração com alguns atributos das Madonas da Idade Média as quais expressavam uma imagem de mulher associada à castidade e distante do sexo, dos prazeres. Um perfil conveniente à sociedade patriarcal daquela época, na qual o papel da mulher era restrito ao universo do privado.
Mas esse não é o ponto que nos interessa no momento.
Nesse ponto, é bom desde já enfatizarmos que tanto Lutero como Calvino (fundadores do protestantismo) reafirmaram e exaltaram a figura de Maria).
Vejamos Lutero :
“Quem são todas as mulheres, servos, senhores, príncipes, reis, monarcas da Terra comparados com a Virgem Maria que, nascida de descendência real (descendente do rei Davi) é, além disso, Mãe de Deus, a mulher mais sublime da Terra? Ela é, na cristandade inteira, o mais nobre tesouro depois de Cristo, a quem nunca poderemos exaltar bastante (nunca poderemos exaltar o suficiente), a mais nobre imperatriz e rainha, exaltada e bendita acima de toda a nobreza, com sabedoria e santidade."
(Martinho Lutero, "Comentário do Magnificat", cf. escritora evangélica M. Basilea Schlink, revista "Jesus vive e é o Senhor").
The Excommunication of Martin Luther
"Peçamos a Deus que nos faça compreender bem as palavras do Magnificat… Oxalá Cristo nos conceda esta graça por intercessão de sua Santa Mãe! Amém."
(Martinho Lutero, "Comentário do Magnificat").
Por isso, os ataques religiosos (isolados) contra Maria tenderiam mais para um receio patriarcal em não se submeter ao elemento feminino “divinizado”, ou mesmo uma tentativa de diferenciação religiosa; do que uma contra-argumentação teológica consistente.
E falamos o termo divinizado pois é assim que suas representações e crenças parecem sugerir.
Tudo isso, a despeito de buscarmos constatações históricas de sua existência e de seus atributos. Até porque a racionalidade pura e a historiografia mais conservadora não conseguiriam por si só alcançar a plenitude do fenômeno da Virgem Maria.
No fundo, estamos tentando falar, na realidade, de uma espécie de predisposição nata (estrutural) para recepcionar os sinais de Maria, como Arquétipo da Mãe.
E é esse o nosso ponto central.
Ora, se é verdade que o ocidente passa por um “processo de feminização”. E mais: se realmente vivemos uma tentativa da humanidade em se (re) integrar à Mãe Natureza (e não mais subjugá-la), estaríamos raciocinando com base em valores femininos.
Saturam-se os “tempos modernos”, e também sua bandeira de endeusamento da razão. Na pós-modernidade, diferentemente, há uma evidente valorização da emoção, do feminino.
Nesse sentido, a “imagética mariana” expressa também a capacidade de resistência da mulher ante as mazelas da vida (vejam a vida das mulheres nordestinas: mãe, educadora, trabalhadora). A mãe que se doa inteira e traz consigo a essência da paz de espírito, sem contudo, negar-se a enfrentar a vida.
Por outro lado, sabemos, obviamente, que há um renovado culto a Maria, patrocinado por alguns movimentos católicos, com ênfase nos valores familiares e morais ortodoxos, com rejeição do homossexualismo e do sexo antes do casamento, e nos deveres de assistência caritativa. (Alves, 2002). Mas esse não é o foco de nossa discussão.
Apesar de o entendermos como uma espécie de rememoração com alguns atributos das Madonas da Idade Média as quais expressavam uma imagem de mulher associada à castidade e distante do sexo, dos prazeres. Um perfil conveniente à sociedade patriarcal daquela época, na qual o papel da mulher era restrito ao universo do privado.
Mas esse não é o ponto que nos interessa no momento.
Estamos em busca de demonstrar a força arquetípica de Maria, e toda uma constelação de imagens, em crescimento na pós-modernidade, inclusive associada à imagem da Grande Deusa.
Não é uma discussão teológica. A teologia que inclusive já foi associada à figura de uma mulher. Lembremos Beatriz, de Dante, e em meio ao patriarcalismo severo da Idade Média.
Por outro lado, em meio a essa “crise moral” pela qual passa a Igreja Católica, especialmente em relação às acusações de pedofilia e inflexibilidade do “dominus papal” em aceitar a flexibilização do celibato. Algo que hoje está custando muito caro Igreja.
Outros momentos da história ocidental assistiram ao fortalecimento do culto e simbologias marianas, foram eles, como por exemplo, nos século XI, XVIII. Parece-me que estamos na iminência ou já vivenciando um novo evento dessa natureza.