quinta-feira, 3 de novembro de 2011

A chegada à Machu Picchu.


(continuação do texto anterior)

No quinto dia da trilha, acordamos às 3:00 horas da madrugada. A partida estava marcada para as 4:00 horas. Começamos, então, a subir a montanha que nos levaria à cidade sagrada dos incas.

A manhã ainda não tinha despertado, subimos 1643 degraus irregulares. Para não fugir a regra, a nossa peregrinação foi surpreendentemente cansativa (É possível se subir a montanha de ônibus, como a grande maioria das pessoas fazem).

Vencidos os destemidos degraus, atingimos o topo da montanha. As nuvens ainda cobriam-na quase por completo. Pouquíssima visão tinha-se do lugar.

Machu Picchu está a 2.400 metros de altitude, esplendorosa e reinando como uma dos mais importantes monumentos arqueológico e arquitetônico do mundo.

Ao chegarmos, não tivemos a noção dessa grandiosidade, pois as nuvens guardavam-na, cobriam-na quase totalmente.

A misteriosa cidade, conhecida como a “Velha Montanha”, parecia querer se esconder, melhor, negava sua nudez a nossa vista sedenta e insaciável.

Porém, pouco a pouco os raios solares foram penetrando em meio ao nevoeiro e abrindo janelas de observação. Era como se uma mão invisível limpasse cautelosamente um horizonte áureo, mostrando a princípio pedaços de uma imensa obra de arte, para depois desnudá-la por completo.

Ao final, nascia aos nossos olhos incrédulos o espetacular sítio arqueológico dos incas, um santuário que exaltava um forte misticismo, além uma arquitetura particularíssima, expondo suas construções de pedras encaixadas milimetricamente e sistemas de irrigação de fazer inveja a muitas obras da atualidade.


Não podemos esqueçer que Machu Picchu foi também um importante centro de estudos. Ali se educavam e formavam as elites dos incas.


Por isso, para alguns historiadores Machu Picchu foi a primeira universidade das Américas. 


Historicidades a parte, Machu Picchu é um lugar encantado, no qual definitivamente o imaginário fixou sua morada.
Ora, difícil sentir Machu Picchu sob um manto meramente racional, objetivo. Melhor dizendo: para sentir a força mística do lugar, as lentes racionais e autoritárias da razão devem ser meio que esquecidas, desvalorizadas... instaura-se, pois, o reino da emoção.


É nessa condição que se pode criar uma sintonia fina entre o hoje, o ontem e o amanhã. Falamos de sentimentos, falamos de uma interação entre a mística inca e a nossa alma, esta última querendo inebriar-se, emberber-se numa história maravilhosa e sem fim ( a história da cultura inca).


Uma história cheia de curiosidades.

Poderíamos destacar, por exemplo, a forma de enterrar os mortos, ou seja, em posição fetal. Os Incas acreditavam no retorno à vida após a morte (uma espécie de reencarnação). E como tal, a posição fetal já indicaria um renascimento.


Quanto à educação das mulheres, vale ressaltar que aos 10 anos elas passavam por uma seleção. “As mais inteligentes e bonitas, sendo da etnia dos Incas, eram escolhidas e mandadas para Cuzco. Lá eram educadas por mulheres mais velhas".

"Algumas se tornavam esposas do imperador ou de quem ele indicasse, outras permaneciam virgens para participar do culto solar”.

Aos homens “também era dada nas escolas de Cuzco, mas não era como a das mulheres. Era um sistema bem mais severo, não só com aulas sobre a religião, a história, etc., mas também aprendiam a lutar e fabricar armas além de praticarem violentos exercícios que por vezes os levavam até a morte.”

“Estes que passavam por esta educação tinham a sua orelha furada ao terminarem, para indicar que eles faziam parte de uma elite formada por funcionários que eram chefes valorosos para o Império”, como os mandarins no antigo império chinês.

No que se refere à conquista e dizimação dos incas pelos espanhóis e de forma resumida, é possível se argumentar que Pizzaro teria se aproveitado de uma revolta civil, e “graças ao conflito entre os irmãos soberanos Atahualpa e Huáscar, que travavam uma batalha pelo trono, viu a chance de avançar com seu exército nos territórios que já estavam enfraquecidos’.


O Imperador Atahualpa foi feito refém e o povo inca subjugado por completo. Caia assim um império descomunal.

Não podemos esquecer de uma antiga lenda e rumores que se espalharam como fogo pelo Império Inca . A narativa falava de um estranho "homem barbado" que "vivia numa casa no mar" e tinha "raios e trovões em suas mãos".
Este homem estranho começava a matar muitos dos  soldados incas com doenças que trouxera".

"Alguns textos afirmam que mulheres a serviço dos templos eram sacrificadas, mas a maioria das vezes os sacrifícios humanos eram impostos a grupos recentemente conquistados ou derrotados em guerra, como tributo à dominação”.

Algumas lendas falam que as vítimas sacrificiais deveriam ser perfeitas, “e que havia grande honra em conhecerem e serem escolhidas pelo imperador, tornando-se, depois da morte, espíritos com caráter divino que passariam a oficiar junto aos sacerdotes”.


“Antes do sacrifício, os sacerdotes adornavam ricamente as vítimas e davam a ela uma bebida chamada chicha, que é um fermentado de milho, até hoje apreciada”.

No entanto, hoje, muitos historiadores questionam essas interpretações, pois os achados arqueológicos e textos não escritos por espanhóis não indicariam a existência desses sacrifícios.

Poderia ter havido espécie de intencionalidade dos espanhóis para enfraquecer a cultura e a religião inca, acusá-las de práticas, para eles abomináveis, como, por exemplo, as  cerimônias de sacrifício humano.


Difícil adentrar nessa polêmica, ainda mais considerando o desaparecimento de sua população tão rapidamente, e o fato da cidade ter ficado oculta por centenas de anos.

Pois bem, depois de todo esse deleite de emoções e conhecimento da cultura inca os quais pudemos vivenciar com tanta intensidade, voltamos para Cusco (quase 4,5 horas de viagem em um trem panorâmico).


Pudemos então recuperar nossas forças e desfrutamos da antiga capital do império inca....(de sua gastronomia, festivais de cultura, massagens com ervas nativas e passeios fabulosos a suas inusitadas e ricas Igrejas.


Retornamos ao Brasil felizes, rejuvenescidos em ideias e sensibilidades, e com uma sede incomensurável de viver novas aventuras ......

Fontes:


http://www.ampulhetta.org/machupicchu/historia.htm