Trata-se de um blog relacionado à discussão sobre revolução 4.0, smartcities, religiões, teoria do imaginário, fenômenos pós-modernos, poesia, feminismo, mitos e pesquisas em gênero, além de esportes e viagens.
(Blog criado em jan 2010)
Ante um cenário tão desafiador e disruptivo, várias indagações surgem a cada instante. E, apesar da maioria delas ainda estarem sem respostas, algumas especialmente estão me fazendo refletir muito, tais sejam: “Quando iremos voltar à normalidade”? E de qual “normalidade” estamos a falar? Há uma reinvenção do que seria o “normal”?
Pois é, pessoalmente, acredito em um cenário pós-crise #covid19 bem diferente, cheio de ameaças, mas também com muitas e inesperadas oportunidades.
E por que penso assim? Vejamos:
Assistimos à escalada de um vírus impiedoso a estourar “bolhas” (e criar outras). Mas, acima de tudo, ele testa em grau máximo a força e “solidez” de muitos conceitos, ideologismos e modelos de respostas a crises de cidades, países e continentes. Alguns desses, inclusive, sendo literalmente derretidos! Seja eles de ‘”direita”, de “esquerda”, “liberal”, “conservador” etc. Tudo está sendo posto à prova, de forma avassaladora.
Observem que a #convid19 está deixando bem explícito (podemos até nos negar a reconhecer isso) o perigo real de insistirmos em alimentar a “cultura do achismo”, da “pós-verdade”, de raciocínios unidirecionais, em detrimento à educação científica e à visão global do mundo. Chegamos a propagar recentemente: “as vacinas fazem mal, pode até matar”. Resultado: o sarampo voltou! Muita gente deixou de se vacinar contra a gripe. Resultado: os surtos de gripes (exemplo: h1n1) se somaram à pandemia do novo corona vírus. E, paradoxalmente, agora, estamos todos rezando por uma vacina para a Covid9.
Fica, pois, evidente a necessidade de repensar esse endeusamento da pseudociência e essa loucura de adotarmos como elevarmos, ao extremo, a régua balizadora incontestável de verdades as nossas paixões e crenças, inclusive, políticas. Estamos medindo o mundo a partir de uma visão única sem aceitar qualquer tipo de contestação, caso venha do lado considerado oposto. Todas as verdades não podem ser privilégio exclusivo de sua bolha (atentem para isso).
Mergulhar num “sonho dionisíaco” pode ser prazeroso e apaixonante, mas quando o mundo real se apresenta e exige ação e tomada de decisão, estragos importantes podem acontecer por esses excessos. Não podemos seguir cegamente ninguém, não podemos perder a nossa capacidade mínima de análise crítica.
Não é à toa que assistimos ao surgimento de uma profusão de “tribos” (neotribos) com ideias tresloucadas sobre o mundo, sobre os comportamentos e questionando cinicamente o árduo trilhar da ciência. Tentam, com discursos oportunistas, que quase sempre são autoritários e niilistas, e desqualificam conquistas históricas, inclusive da democracia. Ora, como é possível, em pleno século XXI, ser preciso reafirmar a uma criança: “a terra NÃO é plana! ”. Vcs já pararam para se perguntar sobre isso?
Pois é. A #convid19 conseguiu a proeza de revalorizar a importância da Ciência. Alguém ainda tem dúvida que será a Ciência, possivelmente, a responsável por mitigar, curar e chegar a uma solução definitiva para essa #pandemia?
Mas não esqueçamos a Fé. A Fé no transcendental também parece se fortalecer, pois ela está nos dando força, mais resiliência para amenizar nossos sofrimentos, medos e tristezas. Como se nos fosse oferecida uma nova chance (uma janela de oportunidades) para (re)ligar-se ao Ser Maior. E, principalmente, praticar de fato o “Amor ao Próximo”. E isso nunca foi tão importante. A empatia e a solidariedade podem salvar muitos de nós.
Por fim, não poderia deixar de citar a Arte. Quem não se emociona e se revigora ao ouvir uma bela música, das sacadas das janelas, de telhados, das “lives”? O som do” inaudito” que nos faz sublimar e encantar-se naquele instante (mesmo que seja só naquele instante), e ameniza a pressão do mundo real. Como diria Nietzsche: “ A Arte torna a vida suportável”. Quem assistiu a “live” de Andrea Boccelli no último domingo, em Milão, sentiu possivelmente esse inaudito que afaga o espírito nesse momento tão turvo e incerto.
Venceremos essa pandemia, sendo fortes, solidários e trabalhando de forma colaborativa!
Os
Tropeiros da Borborema podem ser
considerados como elementos centrais na formação da identidade cultural campinense. Eles alimentam nossas memórias, com
suas sagas e feitos, e dão um sentido particular a nossa origem.
Esse sistema de “ideias-imagens” do ser-de-campina, que também pode ser chamado de tropeiro-feirante, parece se estruturar a partir de três características fundamentais: a capacidade heroica de vencer desafios; o empreendedorismo desbravador e cosmopolita; e a adaptabilidade ao meio (e de fazer desse meio o centro de tudo).
Trata-se
de um retrato simbólico (dos tropeiros) cuja idealização nos reporta
necessariamente ao passado, mas a um passado (um “rever os antigos”) com sede de presente, do hoje, na intenção manifesta de fazer
perpetuar esse traço inalienável do nosso imaginário coletivo.
As
imagens ditas primordiais e os mitos precisam ser perenizados, cultuados e,
quando necessário, revigorados. Não se concebe uma sociedade, uma civilização,
sem seus heróis, suas histórias lendárias e míticas. O mito “relido” é parturiente
de imagens-ideias de um “recordar”que anima (impulsiona) o presente. Não é a toa que quando ouvimos os tropeiros que “partiam mais cedo que a barra da aurora”, “nos tempos de outrora”,
parece formar na nossa mente a imagem-sensação
de ser incansável, de disposição titânica, e isso é exemplo de força
civilizatória.
Platão, em sua obra clássica A Republica, nos sinaliza o caminho: “o mito foi salvo do esquecimento e não se perdeu. Ele pode, se lhe dermos crédito, salvar-nos a nós mesmos”. Os romanos têm em seu mito de origem, de Rômulo e Remo, personagens que foram alimentados por uma loba, a exaltação a figura do guerreiro.
Notar,
por outro lado, que a historiografia tradicional teria os tratado (os
tropeiros), de forma periférica, um tanto marginalizada, e o “tropeiro
empreendedor” tornou-se uma espécie de “desconhecido”. Nesse sentido, a
imagem-emoção das “tropas de burros
que vem do sertão, trazendo em seu lombo, peles e fardos de algodão” tenderia
a se distanciar, como ator operante, da centralidade dos ciclos de
desenvolvimento da cidade. Esse ator-ideia,
ou mito de origem, de valor arquetípico,
se fazendo valer da linguagem junguiana, teria sido pouco captado e valorizado
pela análise histórica linear e racional.
Ora,
as Luzes só mostram e valorizam o que
está claro, vício da modernidade; as sombras, as imagens profundas
(primordiais), as ideias que fazem sonhar, no dizer de Bachelard, eram (ou são)
lidas como ilusões, fantasias, por isso, fora da equação cartesiana do saber, e
do fazer. Não fosse a poética genial de Raymundo Asfora que anunciou o recordar hoje é o meu lema do
tropeirismo da Borborema, obra épica, musicada por Rosil Cavalcante e cantada
pelo Rei do Baião, talvez poucos tivessem ouvido falar e se emocionado com esses
heróis pouco explorados do imaginário campinense contemporâneo.
No
quesito desafio, inclusive, surpreende a escolha da campina grande como lugar
para o nascimento da Rainha, um planalto sem água, nem manancial de
abastecimento por perto. Evaldo Gonçalves observou bem essa faceta do mito e da
história. O ato de fincar morada na Rainha da Borborema já trazia consigo uma escolha
de superação mítica. Ser resiliente era uma condição sine qua nom para enfrentar “a sede e a poeira do sol que desaba; que
rolava o caminho que nunca se acaba”. A decisão, por si só, era uma decisão heroica... Nascemos sob o signo
da crise hídrica, algo do nosso cotidiano, portanto, nunca foi nem será
impeditivo ao nosso crescimento.
Pois
bem. A obra arquitetônica e a escultura a ela acoplada (a frase pode ser lida
em sentido inverso), é um conjunto de representações históricas e simbólicas
destinado a (re)valorizar esse mito fundador da civilização campinense, os “Tropeiros da Borborema”. E exaltar o
espírito empreendedor do campinense, a eles intimamente associado. Quando, por
exemplo, cantamos “foi grande por eles
que foram os primeiros”, estamos realçando o traço de heroísmo e de
orgulho desses desbravadores presente no mito de origem.
Sua
marca, seu traço, sua concepção estética não se intimida em desconstruir a
proporcionalidade e simetrismo entre as partes, o faz para provocar uma mudança
de percepção, rompe-se a “lógica”, como a poesia nos ensinou: “o passo moroso; só a fome galopa; pois
tudo atropela o passo da tropa”. “Atropela”, ou interpela, para nos levar
da posição de observador para a de observado; de um olhar distante, impassível,
para um olhar inundado de emoção.
E
para isso, propõe um mergulho no nosso próprio imaginário, que é coletivo e é
nosso (o ser-campinense); e o real e
o imaginário vão ter, enfim, suas núpcias,
em plena pós-modernidade, na leitura mais profunda do mito.
A
leitura de verdades imersas,
“escondidas” pela poética. E se caminhavam “as
tropas cansadas e os bravos tropeiros buscando pousada”, representação
do gene do desenvolvimento, da
riqueza, tatuado menos “pelos duros chicotes
que cortavam os lombos ou pelos ferimentos nos cascos” (símbolo de
uma subjugação, a ser superada, da natureza ao progresso), e mais pela
simbologia da perseverança e sentido logístico-distribuidor.
O
conceito arquitetônico é, então,
inundado pela carga simbólica do mito, e vai buscar, no diálogo entre o
passado, o presente e o futuro, uma forma de expressão estética que use a força
da beleza, sustentada por uma ideia, como elemento indutor de uma imersão.
Imersão cuja finalidade implícita é dar o
devido valor a emoção heroica dos tropeiros, sem hipervalorizar a razão, a
ciência, expressa no casulo espelhado de quem olha de uma perspetiva lateral.
Esse
primeiro bloco é, pois, uma
representação da Campina Hightech, da
razão iluminista, de sua grandiosidade sofisticada e antenada com o mundo, por
isso, o arrojo da sua estrutura suspensa, suas faces espelhadas e elementos
metálicos, que representa A Rainha contemporânea, educada na Academia e disposta a avançar na
sofisticação de sua força reluzente.
Mas
se o presente é-lhe grandioso e o futuro promissor, olhemo-nos para o passado,
na busca idílica da alma campinense,
cujo paradigma mítico nos reporta aos Tropeiros da Borborema, suas sagas
heroicas percorrendo sertões e cariris adentro. E essa busca nos leva ao
íntimo-interior, casulo ôntico no qual foi forjada a alma desse povo lutador,
incansável e inovador!
E
nesse viés, o olhar perspetivo em planta-baixa, o olhar dos céus, melhor
dizendo, da lua, desconstrói a leitura
estética do mito prometeico, no
sentido de fazer nascer uma nova imagem-emoção ou imagem poética: as curvas da estrutura metálica as quais representam
duas mãos em forma de “cuia”, a buscar a água de beber na fonte,
representação simbólica do tradicional açude velho, manancial divino sonhado no
auge da sede atroz dos guerreiros incansáveis. E representação histórica de um passado real, pois teria sido naquele
recanto a parada das tropas para matar a sede, daí o cognome “Berro D’água”.
Essa mesma água que vai dançar, ao som do hino em homenagem à alma campinense dos tropeiros, uma música que é quase um canto de dor, como o jazz é para os escravos da América do norte, mas uma dor que não dói mais, e sim emociona na esteira da saudade dos corações valentes, invencíveis. E nos eleva, ao som do inaudito, no dizer de Nietzsche, e aciona o nosso substrato mental, dando-nos força para ir à frente, na construção de um lugar melhor para se viver.
Esse sistema de “ideias-imagens” do ser-de-campina, que também pode ser chamado de tropeiro-feirante, parece se estruturar a partir de três características fundamentais: a capacidade heroica de vencer desafios; o empreendedorismo desbravador e cosmopolita; e a adaptabilidade ao meio (e de fazer desse meio o centro de tudo).
A obra precisava de um jardim, adorno que representa o flerte com a logística, vocação campinense de ser entreposto. Espécimes do sertão, cariri e brejo, plagas que nos circundam, compõem a vegetação e a embelezam. E as antigas moradoras, trasplantadas (os ipês) vivem na outra margem do açude, admirando a beleza de suas irmãs do verde.
Mas
faltava o espaço para escrever o futuro, com o ardor do presente e o animus do passado, por isso, a obra fornece suas linhas amarelas, a
cor solar de exaltação ao heroísmo, e o casulo abre-se como um caderno para
receber nossos sonhos.
Sonhos
que falem de um novo ciclo, que se anuncia, a partir das terras dos Afonsos,
com a visão estratégica do tropeiro-logístico (do mito de origem) e da utopia
possível do filho simples do funcionário da rede ferroviária, que vislumbrou,
em meio ao cenário da mesmice irritante e estéril, tempos que precisam se
renovar, pois Campina nasceu para sonhar grande!
E
nada melhor do que a inspiração dos tropeiros, símbolo primordial que nos
irriga e dá força, para nos conduzir, à frente de uma nave-casulo, rumo a um
novo e duradouro ciclo de desenvolvimento econômico, sustentável e com justiça
social, e ai poderemos cantar-sentir a inspiração-imagem dos versos do cearense
genial:
“Riqueza da terra que tanto se expande
E se hoje se chama de Campina Grande
Foi grande por eles que foram os primeiros
Ó tropas de burros, ó velhos tropeiros.”
A rede começou a balançar! Mas
quem principiou o balanço? Eis (talvez) uma boa pergunta rsrs! Primeiro não se pode “culpar” ou “isentar”
exclusivamente o vento; até porque a mão
do destino também tem suas armações, suas estratégias “sutis”. Aliás, com força
suficiente para ditar o ritmo e altura do balanço.
Mas que o vento (a natureza) ajudou, ajudou
rsrs! Isso é bem visível. Pois como negar a sintonia (fina) dos olhares
cúmplices e desejosos, dos beijos que nunca querem acabar, das intenções meio escondidas, que vão além do transitório, do efêmero, como se quisessem durar "para sempre". Seria uma ilusão? Um exagero? Uma sede facilmente saciável? Ou seria a força da natureza
moldando e insuflando suas escolhas, as que são verdadeiramente irresistíveis, as
que vieram para ficar? Deixemos, no entanto, essa resposta para Cronos rsrs, é mais prudente...
Já o destino, esse não menos
discreto, parece ter girado todas as suas rodas para que o improvável acontecesse.
Ora, só ele (Ele) seria capaz de mexer com tantas peças, algumas impensáveis,
para fazer essas duas histórias se encontrarem e se harmonizarem tão rapidamente (num ritmo que até assusta...). Uma
harmonia cheia de paz de espírito e de cintilâncias; cintilâncias de sentimentos coniventes, de acolhimento, de bem-estar; como feixes de luz que se irradiam pelo ambiente e trazem consigo o doce
aroma de Eros.
E o Mar? Rsrs! Esse parece olhar sorridente, pensativo, assistindo aos dois “jardineiros”, os quais plantam sementes,
cuidadosa e pacientemente, num lindo jardim colorido. E as sementes parecem ser de felicidade! E talvez por isso, o mar acalma-se e se insinue, como que oferecendo seu imenso aconchego para acalentar o nascimento de um grande amor......
E se for só um sonho....não importa...valeu muito a pena sonhar.....
Já é “lugar-comum” a crítica da
intelectualidade (e outros) ao apego exagerado da sociedade contemporânea a “estética
corporal”, o culto ao corpo, a busca por uma beleza idealizada pela mídia; uma
verdadeira “tirania do belo”; o que é legítimo! No entanto, poucos se preocupam em tentar
compreender minimamente a razão dessa louvação à Afrodite. Por que será, então, que estamos nos “estruturando” em
torno desse “mito da beleza”? Será que as novas gerações não se decepcionaram
com as promessas dos grandes sistemas de pensamentos, “adoradores” de mergulhos
profundos em busca de um endeusamento da razão?
... André Agra